Entre uma tarefa e outra, uma olhadinha na TV ou internet para ver a participação brasileira nos jogos olímpicos. Foi assim nos últimos dias, com tensão nas acirradas disputas, vibração a cada medalha conquistada e lágrimas nos olhos de alegria ao ver pódios formados por mulheres negras e o protagonismo feminino nas competições. Além de tudo isso, meus olhos também ficaram atentos a outros momentos: nas expressões dos atletas ao se preparem para a competição, no contato com outros competidores e na comunicação com seus líderes/treinadores.
Acompanhar estes momentos me fez recordar do livro “O Jogo Interior do Tênis”, de Timothy Gallwey, com quem aprendi sobre o desenvolvimento no esporte, e que relacionei com desenvolvimento na comunicação. Gallwey foi um treinador de atletas de alta performance e acredita na existência de dois jogos que acontecem simultaneamente: a execução física das técnicas esportivas, o jogo exterior e o que se passa na cabeça no atleta, o jogo interior. Na comunicação, o jogo exterior é o envio da mensagem (como uma apresentação em público), que todo mundo vê, e o jogo interior é o que acontece dentro da cabeça de quem está falando. A partir dessa ideia, alguns métodos do autor fazem parte dos treinamentos e palestras que ministro.
Entre eles está a importância de se manter no presente. “A ansiedade é o medo do que pode acontecer no futuro, e ela ocorre quando a mente começa a imaginar o que o futuro nos reserva. Mas quando a sua mente está no presente, as ações que fazem necessárias naquele momento têm maior chance de serem executadas com êxito e, como resultado, o presente vai ajudar a fazer um futuro melhor.” (Gallwey, p.108)
A boa notícia é que é possível treinar a mente para focar no presente e alcançar melhores resultados. Antes de uma reunião importante ou apresentação pública, por exemplo, é essencial lembrar que você se preparou para aquele momento. Lembrar-se que seu objetivo é dar o melhor de si, sem comparações, é um método que também pode ajudar.
Isso porque caímos muito facilmente na armadilha da autocrítica. Muitos profissionais acreditam que seu valor está diretamente relacionado ao desempenho em suas atividades. Essa mentalidade é similar à de atletas que medem seu valor com base em suas vitórias ou derrotas. Porém, essa autocrítica constante pode ser paralisante. Se nos concentrarmos apenas no medo de falhar, corremos o risco de nos tornarmos reféns de uma mentalidade que nos impede de crescer e evoluir.
Talvez nossa medalhista Rebeca Andrade tenha recorrido a essa técnica quando, ao se aquecer, pensava em receitas culinárias que pesquisou na internet, como contou a uma jornalista após sua apresentação.
A autocrítica é um fator importante a ser considerado para a alta performance no esporte. “A primeira habilidade que se deve aprender é evitar a tendência que temos de julgar nosso desempenho como bom ou ruim.” (Gallwey, p.30) E ainda: “Frequentemente esses autojulgamentos tornam-se profecias que acabam se cumprindo.” (Gallwey, p.32) Por isso, encorajo meus clientes a descreverem suas dificuldades sem julgamentos severos. Reconhecer suas áreas de melhoria de forma objetiva é o primeiro passo para superá-las.
Isso vale também para as críticas que recebemos de outras pessoas e as aceitamos como verdade. Cabe lembrar do desabafo da campeã do vôlei de praia Ana Patrícia ao contar como foi criticada pelo público e recebeu mensagens de ódio após não ter vencido nas Olimpíadas de Tóquio. Na entrevista, ao agradecer a Deus, à equipe e a si mesma, Ana mostrou como o jogo interior foi essencial para que conseguisse voltar à competição e receber a medalha.
As Olimpíadas de Paris terminaram, mas a nossa comunicação continua e deve ser desenvolvida dia após dia para alcançarmos os objetivos que traçamos. No lugar de uma medalha no peito, a alta performance na comunicação nos levará à conquista de relacionamentos mais fortes, apresentações de qualidade, melhor compreensão de informações e o sucesso profissional e pessoal. Que venha o nosso ouro!
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