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  • tatianembraga

Perfeito ou em construção?


Buscar a perfeição nos afasta enquanto reconhecer que somos vulneráveis nos aproxima

Você já deve ter ouvido que “o bem-feito é melhor que o perfeito”, que “a pressa é inimiga da perfeição” ou ainda que “a prática leva à perfeição e o erro leva à excelência”. O fato é que a perfeição parece ser um desejo de muitos. E já foi para mim.

Um dia desses eu escutava a liturgia diária que meu marido me manda todos os dias de manhã. O padre dizia que “O princípio da conversão é se reconhecer pecador, imperfeito. Quando achamos que estamos prontos, Deus já não pode mais tocar no nosso coração.” A minha leitura foi que, aquele que não reconhece suas vulnerabilidades, não pode desenvolvê-las.

O áudio me lembrou do professor Zeca de Melo, que me ensinou que a palavra “perfeito” vem do latim “perfectus” e significa o “que tá acabado, terminado, sem faltar nada”. Na época eu, que sofria com a busca pela perfeição, pensei: “Opa! Vou parar com esse negócio e seguir em construção, que é melhor.”

Na comunicação, muitas vezes, a gente busca a perfeição. Falar bonito como fulano, ter a postura do beltrano, e assim vamos nos afastando da nossa essência. Todos nós somos feitos de qualidades e defeitos. Mostrar as qualidades é fácil, mas os defeitos tentamos esconder. E isso nos dá um baita trabalho! Vou dar um exemplo do que estou falando.

Certa vez cheguei para uma reunião com um potencial cliente e me senti intimidada. Várias pessoas me esperavam numa sala de reunião e pareciam estar prontas para a cerimônia de inquisição. Comecei a pensar em como eu iria me defender daquele iminente perigo (que eu interpretei assim, vale pontuar). Pensei em como deveria me comportar e o que deveria dizer para mostrar que sou boa no que faço, para impressionar ou, pelo menos, não decepcionar. Foi terrível! Quando acabou a reunião eu estava exausta. Ao sair da empresa me dei conta de que me sentia assim porque tentei ser quem não era. Fiquei envergonhada! Estava claro que, se eu tivesse sido quem sou teria me saído melhor.

Desde então decidi que faria diferente e tive outras oportunidades para experimentar. Quando chego em algum lugar e me sinto insegura, a necessidade de me proteger aparece e acende um alerta. Logo estabeleço um papo comigo. Primeiro me lembro de tomar cuidado com a intepretação que estou dando aos fatos, de afastar os julgamentos e voltar para a realidade. Depois falo pra mim: “Você não está aqui para provar nada para ninguém. Faça o que veio fazer e dê o seu melhor. Seja você!” E seguida eu vou, em paz comigo e aberta para o que vier.

Agora, me diga você: quando conversou com alguém que parecia perfeito, se sentiu próximo ou distante dessa pessoa? E quando conversou com alguém e se sentiu próximo, de igual pra igual, essa pessoa parecia perfeita ou provavelmente tinha alguns problemas como eu e você temos? A minha suposição é que, quando não desperdiçamos energia escondendo nossos defeitos e agimos naturalmente, nosso poder de conexão com o outro aumenta, porque geramos afinidade.

Reconhecer que estamos em desenvolvimento e nos dedicar a fazer o melhor que puder é mais produtivo e assertivo. Sem focar na perfeição. Ser de verdade, de carne e osso, ajuda – e muito – a nossa comunicação.

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